12 de fev. de 2009

cânticos de dor

Ontem saímos do espaço jovem e fomos ao velório da irmã de uns jovens que acompanhamos. Iamos prestar homenagem, estar um bocadinho e ir embora rápido que o dever estaria cumprido. Mas chegados lá, assistimos a algo novo para mim. Em vez de todos calados ou em conversas banais, havia alguém que cantava triste e dolorosamente a morte da jovem de 20 anos. Não eram rimas feitas de músicas conhecidas, era poesia. Poesia espontânea e em crioulo. Depois veio a mãe para junto da filha e começou ela a cantar, a falar com a filha: "Minha viúva, minha amiga, amanhã é tarde demais, acabou a dor, acabou a dor, me abraça, me abraça, essa mão filha, mexe essa mão. Doía e eu dizia "vai passar", "dorme, descansa" e me pedia um abraço, mas doía tudo, doía tudo... Oh minha filha, 'tá a doer, 'tá a doer, amanhã é para a frente, vão todos embora e tu ficas sozinha, Oh minha dôdô, minha menina, agora já não doi nada, ias ser noiva...".
Estavam todos emocionados com aquela expressão de dor e amor. Todos. Ninguém indiferente ou escondido. Lindo, atrevo-me a dizer que achei aquilo lindo. Muito triste, mas uma tristeza partilhada. Fomos ficando para não interromper a dor da mãe e acabámos por sair por já não saber se deviamos ficar a doer ou sair por sermos intrusos daquela cultura...Os santomenses são poetas.

Nenhum comentário: